Buscando no fundo das minhas lembranças ainda
sinto o vento suave balançando os ramos daquela árvore. Ela estava plantada bem
na entrada do jardim, era um espaço florido, bem amplo, até a entrada da nossa
casa. Era uma Acácia, árvore que estendia seus galhos como um grande anjo
resguardando o nosso lar. Ela se postava à frente de um imenso jardim com
canteiros bem cuidados. Peneirando minhas memórias, há sim, momentos de boas
recordações ali vividas. sorrisos das crianças,
as correrias pelos quintais, o barracão inacabado e o hotel ‘assombrado’. As
bolas que tudo quebravam, a radiola e seus discos de vinil, de Gigliola
Cinquetti a Nat King Cole. De madrugada o som da rádio Nacional e toda a sua
musicalidade. O cheirinho dos almoços dominicais, a sacola de pão dependurada
atrás da porta; tudo isso denunciava: família, família, família...Sempre
alternados aos cheiros e sons, sobressaia os latidos dos cachorros. Tantos e
tantos que conosco viveram, cada um com sua história e seu amor construído no
coração de cada um de nós. Pense num lindo cachorro de raça, branco, com pintas
pretas, altivo, elegante e nobre com um nome plebeu de lalau cara de pau.. A
Vida era assim, sem nobreza falsa, e sim a verdadeira nobreza vivida. O cachorro
nobre chegou, roubou um sanduíche e ganhou um nome ladino que pregou e não saiu
mais. Agora, abrindo o baú de recordações, lá estão as provas de tudo o que
vivemos. Foto das crianças com o pai, na varanda, outras dos meninos no jardim,
outras, e outras e outras até a calçada da Acácia. Roberto Carlos, adivinhando
o que vivemos disse: “ Eu já não posso
mais, olhar nosso jardim, lá não existem flores, tudo morreu pra mim...”.
Lá não existe mais nem a Acácia, nem o Jardim, nem nós. Não! Tudo isso existe
sim, de alguma forma, nada morreu! Mas perdemos concretamente nossa casa, a
vida se transforma, segue em frente, mas
a preservamos eternamente em nossa memória. O Importante é a lógica poética que
prevalece nos jardins, vida que se ocupa de ser só o que é. Não há conflito nas
bromélias, não há angústia nas rosas, nem ansiedade nos jasmins. Se despedir do
viço quando é chegada a hora torna-se “coisas da vida”. Tudo concorre para a realização
do instante. De forma original, imortal. Assim mantivemos eternos nossos arquivos
de recordação e os repassamos em câmera lenta, quando bate a saudade. Surgindo
devagarinho o cheiro da frondosa Acácia, com as suas lindas flores amarelas,
simplesmente voltamos ao tempo e revivemos tudo de novo.
Marlene Campos Vieira em 22 de agosto de 2013.
(Homenagem a Olinto Campos Vieira)