BLOG DA MARLENE

Aqui quero fazer um espaço de boa comunicação com meus amigos leitores. Seja bem vindo!

quinta-feira, 29 de março de 2012

Avante, a vida não espera!

Publico aqui no meu blog, um lindo texto escrito por uma querida amiga com nome de estrela, a Dalva,  e grande professora que conta um pouco da sua história de forma emocionante e incrivelmente ilustrativa. Emocionem-se!


"É engraçado como, às vezes, vivemos despreocupadamente, acreditando que sempre haverá tempo; sempre haverá um amanhã para que realizemos nossos sonhos. Embora, gostemos de ter tudo sob controle, sejamos independentes, deixamos sempre algo para depois, pois, inocentemente, acreditamos que o outro dia, fielmente,  estará lá, à espera de que possamos realizar o que ontem não deu tempo, ou o que, simplesmente, não sentimos necessidade de  realizar.
Nessa crença tola de que o futuro nos espera, desperdiçamos momentos, jogamos fora oportunidades únicas de desfrutarmos momentos alegres, de fazermos  aquilo que realmente importa. E o que realmente importa? De vez em quando, é necessário nos fazermos essa pergunta, para que não passemos a vida a lutar por coisas que, na verdade, nem são tão importantes para nós.
Embora devamos ser otimistas em relação à vida, talvez seja um engano acreditarmos que sempre estaremos fortes e saudáveis o suficiente para realizarmos todas as coisas que vamos deixando para amanhã. Se pararmos para pensar, às vezes, são justamente as coisas mais importantes que vamos adiando. Adiamos as reconciliações, os pedidos de perdão, as palavras de amor, os momentos com a família e com as pessoas que amamos, o passeio, a visita ao doente, o bem que podemos fazer ao próximo. Infelizmente, tendemos a acreditar que há coisas mais importantes para serem realizadas hoje. Todo o resto pode ficar para amanhã.
Porém, pode acontecer de  o amanhã nos surpreender  e nos mostrar que o tempo  nem sempre será tão generoso conosco a ponto de permitir que realizemos tudo aquilo que vamos protelando. Foi o que aconteceu comigo. Durante um tempo, vivi deixando para amanhã as coisas mais importantes da minha vida. Afinal, eu era jovem e ainda teria tanto tempo pela frente. Mas descobri que não importa quantos anos você tenha, quantos sonhos ainda queira realizar, haverá sempre a possibilidade de  se descobrir que todos nós temos apenas o dia de hoje. Todo o resto é incerto demais.
Pois é,  no dia vinte e dois de agosto de dois mil e onze, descobri que meus rins tinham parado. Fui surpreendida. Justo eu que tinha tantas coisas para realizar. O que fazer agora diante de tão terrível descoberta? No primeiro momento, tem-se a impressão de  que nada pode ser feito. Tudo aquilo que você tinha planejado para sua vida parece não caber mais nessa nova realidade. Você descobre que terá que dedicar três dias na semana, exclusivamente,  para o tratamento de hemodiálise. E tudo aquilo que havia deixado para realizar depois, como fica agora diante de tantas restrições?
Quando a médica me deu a notícia, não entendi direito o que estava acontecendo. Colocaram um cateter em mim e me levaram para a sala de hemodiálise. Até aí, eu acreditava que minha vida continuaria normal. Entretanto, quando me disseram que eu teria que ir ao hospital três vezes por semana, comecei a ter noção do que estava acontecendo. Aquela seria minha nova realidade. E o trabalho, a faculdade, os passeios? Nada mais poderia ser feito?
No momento em que me fazia tais perguntas, foi impossível resistir. Chorei, deixei que as lágrimas escorressem livremente pelo meu rosto e, quem sabe assim,  tirassem de mim um pouco da tristeza que eu estava sentindo.
Aos poucos fui me acalmando. No dia-a-dia da hemodiálise comecei a  deixar de prestar tanta atenção em mim e, aos poucos, fui olhando ao meu redor. E que bom que olhei para o lado, pois percebi que ainda havia pessoas em situações pior do que a minha. O meu problema eram apenas os rins. Ao meu lado tinha pessoas que, além do problema renal, não tinha as pernas, eram cegos, tinha problemas mentais, dentre outras coisas. Eu ainda podia andar, ver, ouvir, falar. Ah, eu ainda tinha tanta coisa. Não era justo me fazer de vítima, achar que não merecia tudo aquilo, pensar que Deus estava sendo mau comigo. Eu não era a única que estava sofrendo. O meu sofrimento, comparado ao de alguns de meus colegas, era pequeno demais. Eu ainda podia me locomover sozinha, enquanto tantos ali à minha volta precisavam ser carregados. Eu ainda podia me alimentar sem ajuda, enquanto ao meu redor, havia pessoas que precisavam que a comida lhes fosse colocada na boca. Eu ainda podia ler, ouvir música, enquanto para alguns pacientes ali naquela sala, esses simples prazeres já não eram mais possíveis.
Resolvi que eu precisava tomar uma atitude diante daquela doença. Eu tinha várias opções: revoltar-me, me colocar no papel de vítima e aceitar a doença, lutar contra ela e passar com dignidade por aquela situação.
Pensei na primeira opção. Pensei no que eu tinha feito para merecer tudo aquilo. Tentei encontrar um culpado e, num primeiro momento, quis me revoltar e culpar Deus por tudo aquilo que estava acontecendo comigo. Mas, se entendo que Deus é amor, não podia aceitar que ele fosse culpado pela minha doença. Culpar quem, então? Revoltar-me contra quem? Descobri que não havia culpados, portanto, não podia me revoltar.
Então, analisei a segunda opção: fazer-me de vítima. Tornar-me dependente, aceitar a condição de inválida, deixar que os outros fizessem tudo por mim. Afinal, eu estava doente, precisava de cuidados. Mas logo me lembrei de que o que mais me dava orgulho na vida era ser independente, resolver minhas coisas, lutar pelo que acredito. Não ia conseguir ser olhada com pena, ser considerada incapaz. Sabia que dali para frente, eu ia precisar das pessoas muito mais que antes, mas entendi que eu ainda podia lutar, fazer algo por mim mesma.
Assim, restou-me a última opção: aceitar que, TEMPORARIAMENTE, estou doente, mas que posso e preciso passar por isso com dignidade. Embora alguns dos planos que fiz para o amanhã tivessem  que ser mudados, embora  outros não pudessem ser realizados tão brevemente, havia outras coisas que podiam ser feitas.
Entendi, então que aquela situação podia me ensinar coisas que eram necessárias que eu aprendesse. Dali para frente teria que aprender muitas coisas e, a primeira delas, era aprender a escrever uma outra história para mim, fazer outros planos, sonhar com novas possibilidades e me adequar àquela nova realidade. Não é fácil deixar para trás coisas de que gostamos. Não é fácil deixar o trabalho, não é fácil não poder beber aquela cervejinha final de semana, não é fácil seguir a dieta alimentar, não é fácil passar a maior parte do seu tempo em um hospital. O tratamento de hemodiálise  não é fácil.
Conviver com agulhas, sangue, dores, marcas que, aos poucos, vão aparecendo no nosso corpo é algo que exige muita força. Há momentos em que desejamos morrer, para ficar livre do sofrimento. Mas é necessário perseverar,  ter paciência e, sobretudo, acreditar que qualquer sofrimento, por pior que seja, uma hora terá fim. As dores não vão durar para sempre.  Todas as dificuldades que aparecem, no dia-a-dia do tratamento, vão passar. Quanto às marcas, mesmo não sendo possível apagá-las, como me disse Carla  - psicóloga do hospital Filadélfia (Teófilo-Otoni), “todas as marcas que ficarem são a prova da sua vitória”.
Tenho aprendido várias outras coisas com essa doença. Estou mais humana, mais tolerante, mais paciente.  Apesar de tudo, hoje, estou mais em paz comigo mesma do que já estive em qualquer outro momento da minha vida. A doença fez com que eu voltasse o meu olhar para dentro de mim  e isso tem me permitido entender coisas que antes não entendia. Nessa viagem interior, penso que a minha descoberta mais importante, foi compreender que é necessário, imprescindível aproveitar cada momento de nossas vidas, dar valor às coisas mais simples e fazer, hoje, todas as pequenas coisas que tenha vontade. Voltei a dar valor a banho de rio, a fim de semana com a família, à conversa com os amigos, à musica, à leitura e  à tanta beleza que há na natureza. Compreendi que tenho muito mais a agradecer do que há reclamar. Preciso ter fé, acreditar que dias melhores virão. Não vou me entregar à doença. A minha luta é para vencê-la, mas, se isso não for possível, aprenderei a conviver com ela, seguirei adiante sempre. Sei que vou fraquejar em alguns momentos, vou cair, vou chorar, vou sofrer. Entretanto, tudo isso faz parte da vida. Ninguém passa ileso por ela. Cada um de nós tem suas batalhas para vencer aqui na terra, do mesmo modo que também tem momentos de alegria.  Então, só há uma saída: viver intensamente tudo que a vida tem para nos oferecer."



Dalva Ribeiro Vieira
(Temporariamente, paciente de hemodiálise do hospital Filadélfia (Teófilo Otoni – MG)

quarta-feira, 28 de março de 2012

SINTONIA


Há alguns anos escolhi um grupo especial de amigos, para compartilhar coisas boas. Fazemos uma troca de energia, levo a minha e trago a deles.  São pessoas de várias cidades, que fazem hemodiálise num mesmo hospital; eu e também outros amigos, temos a alegria de conversar, trocar idéias  e leituras, toda semana, com eles.
Depois de alguns anos, muitos receberam transplante, outros partiram, deixando saudades. No ano passado, perdi uma grande amiga, foi-se inesperadamente. Fiquei muito abalada e resolvi interagir naquele ambiente, ofereci um rim para doação a uma amiga.Em novembro de 2011, fomos a Belo Horizonte fazer exames num hospital especializado.Para nossa frustração, não havia compatibilidade sanguínea, fiquei muito triste.
Este passo, porém, gerou uma sintonia. Foi tão grande que hoje, minha amiga já foi operada, está com um novo rim, uma vida nova.
Depois de doze anos de hemodiálise, ela realizou o seu e nosso sonho. Essa sintonia começou e se energizou, a partir de uma busca, todos nos sintonizamos  no mesmo querer. Foram  muitas as atitudes geradoras desse final feliz.
De repente,no meio da noite, uma viagem urgente, um novo órgão alí simplesmente a espera da  minha grande amiga. Foi a mais bela notícia do ano novo pra mim, foi o meu presente, a alegria me fez  chorar. Na tarde daquele último  dia estive com ela no hospital, li uma mensagem para ela e a frase final era:
 "CREIA, você nasceu para ter uma vida INCRÍVEL!"