A marca do brasileiro a
meu ver é realmente a bravura. Bravura de arrancar da alma a força pra sobreviver, essa é minha
tradução principal e pessoal da força
dessa palavra.
Brava gente brasileira, que após os quarenta anos precisa de um
curso superior, e se arrisca a fazê-lo. Incluindo
no seu percurso, todos os fatores de uma agenda de vida: família, escola e cem (100)quilômetros diários
pra se chegar à faculdade. Esse cara sou eu, ou melhor, essa mulher sou
eu, que a partir de agora falarei na primeira pessoa, pois o que vivi não posso
negar.
Eu trazia no rosto uma marca de família, um sinal no rosto, bem do lado
direito, amada marca, igual a de minha mãe, que resolveu mostrar-se melhor
crescendo, e que por indicação médica, teve que ser retirada. A vida era uma
corrida sem fim. Não havendo como agendar médico e hospital, segui os conselhos
de uma amiga e procurei um posto do SUS, cujo atendimento era feito por um
dermatologista. Era o dia, 09 de novembro de 1989, dia
histórico para o mundo. Enquanto minha marca era arrancada, o mundo estava
em festa, com a queda do Muro de Berlim. Uma marca para sempre, uma
humilhação na cara. Imagine ser atendida por alguém que não lhe dirige sequer
um olhar, você ali sozinho nas mãos de um calado inimigo; Foi isso que
senti, nem uma palavra, nem uma resposta à minha pergunta, uns poucos
instrumentos e eu ali, cortada, doída, costurada,
com pontos e pronto! Onde ficou minha marca? ela continua no mesmo lugar, no
formato de uma longa lágrima. Ela é história de vida, é uma lembrança boa dos
tempos de paz no mundo. Teve seu lado negativo de revolta, e marca interior de
humilhação, que o brasileiro enfrenta
para sobreviver.
“Ah, a gente quer valer
o nosso amor, a gente quer valer nosso suor”, canta Gonzaguinha.
Vinte cinco anos se
passaram, poderíamos esperar crescimento, progresso na saúde do brasileiro, mas
o que se vê é alarmante. Estamos no grande momento, depois de tantos destroços,
"eles" estão aí, de caras limpas, de rosto puro e solidário, nos
horários políticos. Nas chamadas de propaganda eleitoral, uns dizem:
"Vamos conversar", outros trazem a palavra: "Atenção",
todos mostram o que sempre viram e nunca sofreram, nunca estiveram realmente ao
lado do povo, apontam o caos e apenas prometem. Brava gente brasileira, que como eu,
aproveitou suas mazelas para investir no lado bom da vida. Foi assim que passei
minhas experiências para meus cinco filhos, fazendo para o meu caçula, um livro
vivo de aprendizagem. Hoje,
ele como médico, vê o rosto da mãe em cada paciente e procura respeitá-los, como
ela gostaria de ter sido respeitada por aquele moço de branco, que a tratou
como um poste e ela esqueceu seu nome. Ele, certamente nunca soube o dela.
No meu presente, já recebi o presente; meu médico filho retirou todas as marcas, que poderiam trazer riscos para a minha saúde, com a atenção e a boa vontade que um dia me foram negadas. Muitos devem ser aqueles que possuem uma marca de família, e que lutam para que se construa um país, sem muros diferenciais de classes sociais. Minha palavra para eles: Continuem a luta, pois somos um país de bravos e felizes brasileiros.
No meu presente, já recebi o presente; meu médico filho retirou todas as marcas, que poderiam trazer riscos para a minha saúde, com a atenção e a boa vontade que um dia me foram negadas. Muitos devem ser aqueles que possuem uma marca de família, e que lutam para que se construa um país, sem muros diferenciais de classes sociais. Minha palavra para eles: Continuem a luta, pois somos um país de bravos e felizes brasileiros.
A hora é agora
"Brava Gente Brasileira"