Não há lugares, há pessoas. Conforto
é o maior amor que se pode ter ao nosso lado. Qualidade de vida é a vida ter
qualidade ao lado de quem se ama. É pegar na mão, com carinho, ensinando a dar
os primeiros passos. Ghandi não tinha conforto de príncipe, como Saddam Hussain
teve, no entanto, viveu magnificamente bem, as vezes a pão e água, debaixo de
um calor escaldante. Todos os maiores expoentes da humanidade, com raras
exceções, não tiveram vida fácil. Não há lugares, há pessoas. As vezes as
pessoas batem a cabeça no teto, mas mesmo assim se acomodam com o bem-estar e a
zona de conforto. Salvador Dali era um gênio, mas um gênio com problemas
neurológicos que não afetavam sua genialidade. Tinha medo de vir ao Brasil pois
pensava que ao sair do avião poderia ser atacado por feras selvagens, índios
com flechas, cobras enormes e jacarés famintos. Não há lugares, há
pessoas, pessoas que tem o universo dentro de si. Pessoas que são líderes,
que desbravam a si mesmo e que com coragem, se embrenham no fundo do próprio
coração e não se contentam com o bem-estar de apenas um lugar que ofereça
conforto. Pessoas que não cabem em si, como Fernando Pessoa, que teve dentro
dele todas as pessoas que quis. O que dizer dos gênios de antes que viviam com
parcos recursos, que morriam de doenças que hoje são facilmente curadas, cujas
obras são expostas hoje nas salas requintadas das mansões de pessoas que sabem ostentar,
mas não sabem dar a mão. Não há lugares, há pessoas. Gentileza, um poeta que
quis ser mendigo, andava pelas ruas do Rio de Janeiro com placas poéticas, com
letras maravilhosas, sobrevivendo da caridade alheia. Uma delas GENTILEZA GERA
GENTILEZA. Não busco conforto, busco pessoas de qualidade, de coração, que
saibam ser amigos, que causam saudade com sua ausência. Não busco poder nem
vaidade, e sim uma Paz que somente posso ter quando alguém que amo não estiver
sofrendo, com falta de algo que tenho em sobra e posso dividir. Não busco
lugares, busco pessoas. Pessoas que saibam o valor de si mesmas e que saibam o
valor das outras pessoas, e que não guardem no coração a ferida aberta da
maldade. Não, não busco lugares em que eu possa ver o mar estalando meus ossos
que um dia servirão de adubo para essa terra sagrada do mesmo jeito do vizinho
que faz o mal. Não busco lugares, busco pessoas que não se exaltem com o poder
que lhes foi entregue para melhorar o mundo. Pessoas são maiores que os
lugares. Pessoas fazem os lugares. Pessoas sabem amar e os lugares todos ruirão
com o tempo. Busco a convivência fraterna com as pessoas sem me omitir, sem me
calar e sabendo que tenho muito para aprender.
Olinto Campos Vieira