BLOG DA MARLENE

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domingo, 8 de março de 2015

MEMÓRIAS DE UM RIO

Olhando nossas fotos do passado, repassando nossas memórias, sempre encontraremos saudosas lembranças dos tempos idos.
Em meio a tantos sorrisos da meninada, nossas águas são o realce de pura alegria. Felizes em seus banhos, dando imensas braçadas nas águas puras do rio, lá estão eles e seus amigos.  A seguir, os pais se reúnem na pescaria, a mulherada, aproveita e lava roupa com fartura, estendem para quarar e secar. Quanta diversificação para o nosso rio; alegria, diversão, alimento, utilidade, em resumo: vida... Tudo poderia ser intitulado: "Um dia e o Rio". Era assim, a história de vida de muitos dos nossos homens de hoje; crianças daquele tempo. São recordações gravadas no mais profundo da alma. Assim canta Paulinho da viola: " Foi um rio que passou em minha vida, e meu coração se deixou levar". Os casos do Rio Todos os Santos, ficaram nas histórias, repassadas boca a boca. 
Ouvi de um amigo, o episódio acontecido na casa de seu bisavô, que residia numa zona rural, bem perto da cidade de Teófilo Otoni.  Impossibilitada de comparecer ao trabalho, sua faxineira pediu a uma parenta para substitui-la. O fazendeiro recebeu-a, orientou-a rapidamente e se retirou. Ao retornar depois de algum tempo, encontrou o café na mesa, perguntou então se ela encontrara todos os utensílios, ela respondeu: demorei apenas para encontrar o poço. Cismado, o fazendeiro pede pra ela lhe mostrar o poço por ela encontrado. Ela segue para o banheiro e lhe aponta o vaso sanitário. 
Só então ele entende, que ainda não fazia parte da vida de todos, as torneiras, os banheiros e demais avanços.  As pessoas consideravam o rio como referência, e tinham seus poços nos quintais. Tudo veio a seu tempo, e os casos ficaram na história.    
O nosso Rio Todos os Santos, atravessa a cidade de Teófilo Otoni, e é o principal manancial de nossa cidade, no sentido de abastecimento. Certamente com este pensamento visionário, seu nome foi dado por Teófilo Benedito Ottoni, que e ao desbravar as florestas existentes, deparou-se com a nascente de nosso tão importante rio, e deu-lhe o nome Todos os Santos, no dia primeiro de novembro.
São 70 km desde sua nascente, até sua foz no Rio Mucuri. Pesquisando sobre a palavra Mucuri, que tanto tem a ver com a nossa região; descobri que se trata, originalmente, de um fruto, mas por estar à beira de um Rio, que recebe as águas de todos os Santos, teve a primazia de ter seu nome dado ao rio, e o rio abraçou o fruto, porque o rio é muito mais forte.
Todo rio já nasce com uma direção, e este nome que tanto revela, já nasce verbo, um verbo com direção certa: o Mar. Seja em que lugar ele estiver, o nosso Rio Mucuri não é diferente, ou melhor, é diferente, é um rio misterioso, cheio de história, que banha Minas, Bahia e o Espírito Santo. Foi uma importante rota de comunicação de Minas Gerais, que sabemos não teve, certamente por divinas razões, o privilégio de ser banhado pelo mar. Mas talvez seja por isso, o Rio Mucuri rico e diverso em peixes e plantas, nativas na mata Atlântica. Quantas vezes, me vi admirando aquele rio que parece calmo, que tem suas águas desviadas, pelas rochas que incrustam seu leito e seu próprio caminho.  Pode ser que  isso tenha motivado Caetano Veloso, observador como é, já em seu primeiro disco, em 1967,  quando gravou, “ Onde eu nasci passa um Rio”. Logo ele, que nasceu na Bahia, estado banhado por um frondoso mar; “Onde eu nasci passa um rio, que passa no igual sem fim,  igual, sem fim, minha terra, passava dentro de mim! Passava como se o tempo nada pudesse mudar, passava como se o rio não desaguasse no mar. O rio deságua no mar, já tanta coisa aprendi, mas o que é mais meu cantar, é isso que eu canto aqui. Hoje eu sei que o mundo é grande e o mar de ondas se faz, mas nasceu junto com o rio, o canto que eu canto mais. O rio só chega no mar depois de andar pelo chão, o rio da minha terra deságua em meu coração”

Todos os Santos, um rio de nome poderoso, aquele que nos abraçou, nos acolheu e escolheu, queremos que o seu futuro seja límpido como o seu passado. 

Marlene Campos Vieira 
Escritora e educadora. Membro titular da Academia de Letras de Teófilo Otoni, cadeira 29