Respiração ofegante, por pulmões obstruídos, cheio de secreções escuras e malcheirosas. Lá está ele, andandando tropegamente, inconsciente quase desfalecido. A sua volta, o mundo gira, quase ninguém nota a sua agonia, seu golfejar inconstante. A vida segue assim, em inúmeras cidades desse Brasilzão. Vemos a cada dia nossos rios morrendo e nos acostumamos com essa visão. Ele passando no meio das cidades, com enormes bocas despejando esgotos, cheiros e cores, ares e horrores. Passamos por ele assim , passeamos por ele assim, isso é sadismo demais. Pior é que já faz parte, muito embora, muitas pessoas se sintam aflitas e impotentes, diante dessa agonia, outros preferem ignorar. Assim dia após dia, as águas recebem sujeira goela a dentro e saem engasgadas. Insensatos corações dos governantes, que assistem a esse espetáculo sem se comover. Nós que colocamos nossa natureza em mãos cruéis, podemos tirar lições, e no futuro saber escolher. A natureza não perdoa e às vezes, o rio se sente como aquele boi em fuga, preso dentro de uma loja. Assustado, sentindo-se agredido, ao sair, carrega consigo um mundo de vidros espatifados. Na realidade é o que vem acontecendo, os rios assustados, agredidos, em uma fuga maluca saem espatifando tudo ao seu redor. O sonho de muitos permanece: passar pelas avenidas e sentir o cheiro da natureza em águas critalinas. Nesse dia estaremos realmente vivos, pois se o rio padece nós nele padecemos, somos um todo nesse infinito.
Marlene Campos Vieira