ESTE ESPAÇO AGORA, SERÁ ENRIQUECIDO, COM O RELATO MUITO EMOCIONANTE DA AMIGA "DALVA RIBEIRO", VIDA REAL - LEIAM
No dia vinte e
quatro de agosto, fez um ano que iniciei o tratamento hemodialítico.
Sinceramente, não esperava me submeter tanto tempo a esse processo. Tinha
esperanças, ainda que bem lá no fundo, de que meus rins voltariam a funcionar e
eu teria a minha vida de volta. Voltaria
a trabalhar, realizaria tudo aquilo que tinha sonhado para mim, antes de
descobrir que estava doente. Sonhei até que comemoraria minha cura, fazendo uma
viagem à praia com um grupo de amigos e, estando lá, sentada à beira do mar,
tomaria uma cervejinha com eles e me
perderia contemplando aquela imensidão de água, as pessoas ao meu redor, enfim,
contemplando a beleza da vida.
Contudo, a cura
AINDA não veio e a espera por um transplante continua. Por isso, à primeira
vista, parece que não há nada para se comemorar. Parece que, se eu for
contabilizar o saldo dos acontecimentos de minha vida nesse um ano, o resultado
será muito mais negativo do que positivo. Mas não quero fazer uma análise maniqueísta
da minha vida, onde só é possível enxergar ou o lado bom, ou o lado ruim dos
fatos. Prefiro analisá-la sob a perspectiva de que é possível ver sempre os
dois lados e que, se observarmos bem, mesmo quando tudo parece muito ruim,
podem-se encontrar coisas boas.
Durante esse
período, enfrentei muitos desafios. O primeiro deles foi usar um cateter por
seis meses. Fiquei todo esse tempo sem poder entrar debaixo do chuveiro e
deixar a água correr livremente pelo meu corpo, da cabeça aos pés. É engraçado
como não damos valor às coisas simples, quando as temos e como elas adquirem um
valor enorme quando as perdemos. Meu sonho, nesse período, passou a ser tirar o
cateter e poder tomar um banho de verdade. Um dia depois de ele ser sacado, me
banhei em um rio. Ninguém imagina o que
senti nesse dia. Ao mergulhar naquelas águas límpidas e cristalinas, um
sentimento de liberdade e felicidade me invadiu. Agradeci a Deus por poder
estar ali, vivendo aquele momento.
Tive que usar o
cateter durante seis meses, porque realizei três cirurgias para confecção de
fístula (local onde se puncionam as agulhas para realizar o processo
hemodialítico) sem nenhum sucesso. Nesse tempo, convivi com o medo dessas
cirurgias nunca darem certo, pois conheci uma pessoa que já estava com o corpo
todo marcado, devido às várias tentativas infrutíferas de confecção de fístula.
Na quarta, cirurgia, porém, tudo deu certo e eu venci, então, mais uma batalha.
Mas logo, veio outra. Tive que enfrentar o medo da agulha, uma vez que, dali em
diante, eu teria que conviver com elas três vezes por semana.
Não sei o que
sentem as pessoas que leem esse relato. Algumas podem achar que realmente não
tenho nada o que comemorar. Outras, podem imaginar que só houve sofrimento na
minha vida durante esse um ano e por isso sintam pena de mim. E, talvez, haja
algumas que acreditem totalmente ao contrário: que não há motivos para piedade,
pois o meu relato não é uma contabilização de perdas, mas de vitórias.
Peço aos que se
entristeceram com a primeira parte do meu relato que não se sintam assim. Eu
não sou, não estou, nem desejo ficar triste. É claro que eu não gostaria de
estar nessa situação. Tenho apenas trinta anos. Há tanta coisa para viver.
Tanta coisa que o tratamento me impede de viver AGORA. Mas eu aprendi a ter
paciência e acreditar nos planos de Deus para minha vida. Não há dúvida de que
vivo um momento difícil, talvez o mais difícil que já vivi até hoje.
Entretanto, ele não vai durar para sempre. Nada dura para sempre.
Não entendo
porque tudo isso está acontecendo justamente comigo, mas sei que deve haver
alguma razão. Por isso, tenho tentado tirar desse momento todas as lições
possíveis. Hoje, sou, sem dúvida, uma pessoa mais forte, e ainda que muitos não
acreditem, sou mais feliz. E passei a ser mais feliz, quando compreendi que há
realidades piores do que a minha e que tenho muito mais a agradecer do que reclamar.
É evidente que
há momentos que desanimo, que tenho medo, mas nesses momentos faço minha
oração: “Senhor, sei que não sou digna de pedir nada, mas, por favor, segure
bem forte na minha mão, para que eu possa seguir adiante.” Sei que não estou
sozinha. Preciso acreditar que Deus não abandona seus filhos e que ele está ao
meu lado sempre.
Dalva Ribeiro
Dalva vc já está virando a roda da vida: analisa o que foi, vive o hoje e planta com amor, regando com lágrimas os frutos do amanhã.
ResponderExcluirSão doces lágrimas, pois sempre encontramos no seu rosto um sorriso iluminado. Sua história é mt rica, vc leva a bandeira da paz na luta silenciosa. Parabéns, amiga vencedora.