BLOG DA MARLENE

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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Padre Paraíso

Que barulhão! Que fartura! A entrada da cidade de cima a baixo, verdura, frutas e legumes por todo lado. Cada vendedor oferece mais alto, com preço variado.

Pedrinho ouve: “olha o abacato, bão pra dana”, ele já se acostumou com o jeito maneiro de falar, escreve e sabe, porém um abacate tão grande tem que ser macho, “abacato”. Isso ele nem quer saber, está à procura daquelas chupetas caseiras que só na feira se pode comprar. Esta não é qualquer feira, é considerada uma das maiores do Vale do Jequitinhonha.

Ele avista lá longe a sua preferida, feita com mel de abelhas, comprou e pé no caminho.O  tumulto é grande nesse sábado antes do feriadão, é gente demais e carro por todo lado.

Enfim, Pedrinho chega em casa, é pertinho da cidade, na zona rural, o povo diz que ele mora na roça. E é verdade, ali o ar é mais puro, a horta cheia de verduras e as árvores, carregadas de frutas. Só não tem pé de chupetas, por isso, ele foi comprar na feira. Pedrinho está muito ansioso, seus primos vão chegar para passar o feriado com ele. Eles moram em São Paulo, seu tio era garimpeiro, arranjou bom emprego e foi pra capital.

Sua mãe atenta preparava a casa para receber as visitas, era uma casa pobre, nem tinha cama, todos dormiam em colchões espalhados pelo quarto. Ele vivia com sua mãe, seu pai fora embora há algum tempo. Mesmo sem conforto, Pedrinho era feliz e fazia seus próprios brinquedos. A maioria do tempo passava nos túneis com os garimpeiros da região, onde havia gente boa e pedras preciosas.

Agora ele precisava guardar num lugar seguro, até a outra semana. Olhou a prateleira, viu um panelão, subiu na cadeira e escondeu-as lá dentro.

Ficara contando os dias, oba! Amanhã, mamãe grita não, depois de amanhã eles chegarão. Pedrinho lembra das chupetas, sobe na cadeira e retira o embrulho. Quando retira o papel, fica horrorizado, suas chupetas dentro da sacola plástica, estavam cheias de buracos. O menino abre o plástico e vê as formigas entrando e saindo dos túneis que fizeram nas chupetas. Saiu enfurecido, e agora? não tinha mais nenhuma surpresa para os primos. Com raiva, pensou em matar aquelas bruacas.

Foi andando e pensando: “matar é errado, mamãe disse que Deus é dono da vida”. Pensando bem, deve ter sido difícil fazer uns olhinhos tão pequenos, uns ferrões poderosos, que arrasaram minhas chupetas.

Ele estava nesse pensamento, que nem viu seu amigo garimpeiro João, se aproximar. Pedrinho conta a ele o motivo de sua distração, João olha, examina e diz: Pedrinho, essas são as trabalhadoras que preciso, sabem fazer túneis, vamos trocar, eu lhe dou esse cascalho e você me dá as formigas.

João disse que acabara de retirar aquela pedra que só servia de enfeite. Pedrinho aceitou, se despediu e se foi. O garimpeiro ficou olhando o menino se afastar, pensando como conseguira inventar uma desculpa para acalmá-lo. Chegando em casa, conta tudo a sua mãe, que lhe diz, ponha a pedra para escorar a porta, vamos chama-la de Formiga.

Pedrinho como todo menino, logo se esquece da raiva e renova o coração. Agora era hora de fazer boizinhos de São Caetano e carrinho de bambu para os primos, mãos a obra!

A noite chegou, barulho de carro, lá vem titio, “êta alegria”, presentes, abraços e gritaria. Colchões por todos os lados e cheirinho de carne de sol com farofa, “ê trem bão!” – diz seu tio, conversaram, fizeram algazarra e pronto, sono total.

De manhã, titio sai pra cidade, lá ficam os meninos brincando. O dia passa e pela noite titio chega, com muitas compras, até refrigerante dentro de uma caixa de isopor para ficar gelado.

Meninos sobre as árvores, meninos pé na estrada, na correria, atrás da cachorrada, dias felizes, porém, no dia seguinte, eles iriam embora, Pedrinho nem queria lembrar disso.

“Hora de almoçar, cheirinho de torresmo e arroz com pequi, ô trem bão” – repete o titio.

De repente, sem quê nem porquê, sopra um vento forte, as janelas e as portas batem e então mamãe diz: Pedrinho, põe formiga pra escorar a porta. Todos olham, quando o menino pega aquele cascalho e encosta na porta, seu tio observa com curiosidade, então Pedrinho conta a história das chupetas, que deram o nome àquela pedra.

Seu tio se levanta e examina a pedra – ele fora garimpeiro muitos anos, leva-a até a bica d’água no quintal, todos calados observam.

Pedrinho vê o rosto de seu tio mudar, ele pega uma faca e bate aqui e ali, pedaços do cascalho caem e aparece um brilho lá dentro.

“Oh!” todos dizem, olhando uma pequena pedra azul que surgira, titio solenemente diz: “Essa é uma água marinha das mais limpas que já vi, vocês estão milionários”. Foi assim que Formiga e aquelas formigas presentearam Pedrinho, por ter-lhes poupado a vida, retribuíram com um tesouro, todos ficaram extasiados. Fizeram as malas e trouxas, deram a casa ao João garimpeiro e uma parte do dinheiro. Pedrinho entra no carro e partindo pra capital, onde terá cama para dormir, casa para morar e mais que tudo, escola para estudar até virar doutor.

O carro passa pela cidade, ele levanta a cabeça e vê montanhas e pedras grandes, cercando a cidade. Observando aquela paisagem ele pensa: “A cidade de Padre Paraíso parece estar dentro de um vale, cercada por todos os lados. Sim, cercada de preciosidades, tesouros, pedras preciosas, que bondade de Deus para o seu povo!”.

Assim, foi abanando a mão, lágrimas nos olhos, as mãos de sua mãe apertadas, dizendo “até breve, cidade que eu amo, voltarei claro, para comprar chupetas”, olhou pra mamãe e ambos riram muito! 

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2 comentários:

  1. Oi, Marlene. A história, com mais desenvolvimento dá para virar um livrinho infantil. Já pensou na possibilidade? Acho que as crianças iriam adorar.
    Eu gostei do "abacato" e da pedra Formiga.

    :)
    Abraços desde Brasília.

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  2. Que belezura de história! Só quem conhece Padre Paraíso sabe o valor das suas pedras... e da sua gente!

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